terça-feira, 8 de maio de 2012

                                 
                                     Quase Vi o Pôr-do-Sol
         



        
   Ricardo espera Raquel para uma visita. 
  Ela é uma mulher bem arrumada, rica,  já ele é pobre e desleixado.
  Ela  chega logo e diz:
 -Oi, quanto tempo!
Ricado quer mostrar a ela um local especial.
-Vamos, eu sei um lugar perfeito e ainda por cima é super romântico!
 -Onde é?
Os dois vão caminhando em direção ao cemitério e Raquel diz:
-Nossa, que cemitério gigante!
-Ele está abandonado há tempos!
-Percebe-se.
-Você me lembra a minha prima? Você tem olhos verdes iguais aos dela! Ah que saudade da minha priminha!
-Ela já morreu?
-Aos 15 anos de idade. Minha mãe também já morreu.
-Sinto muito!
Eles atravessam o enorme cemitério até o final.
Bom, Raquel, é aqui onde minha mãe e minha priminha foram enterradas.
Eles entram na capela, e Raquel reclama do frio, e diz que não gosta de cemitérios.
-É lá em baixo-diz o Ricardo.
Era uma escada caracol, tomada por teias de aranha.
-Não gosto daqui! Ricardo, vamos voltar.
-Calma, olhe ali, é a gaveta da minha prima.
Raquel começa a ler em voz alta.
-Maria Camila, nascida em 20 de maio de 1800, falecida em...-Silêncio eterno.
Raquel diz:
-MENTIROSO!
Não tinha ninguém na sala.
-Tchau, RA-QUEL.
-Como assim? Quero sair.
-Você gostou dessa brincadeira?
-Não!
-Fui.
-Ricardo, você é doente!
Raquel permaneceu  presa, acabou falecendo. Passaram quatorze anos. 
Ricardo, que já havia se esquecido de Raquel, estava em casa quando uma moça chegou lá e disse.
-Oi, quer passear?
-Claro!
Os dois saíram e ela escolheu levá-lo numa floresta para  ver o pôr-do-sol. Ele aceitou.
-Vamos, mais rápido!
A moça lembrava a mãe de Raquel.
-Você  é familiar!
-Que legal!
Logo a moça olhou para frente e viu uma senhora, que a conheceu.
-Oi.
_Oi.
Silêncio.
A moça foi voltando pra casa e o deixou  com a velha.
-Como é o seu nome, senhora ?
A velha  ficou em silêncio. Só puxou Ricardo pra fora da floresta e o levou para o cemitério. Chegaram no mesmo lugar onde Raquel havia morrido, ele disse:
-Pra que vir aqui? Hein?
-Venha, só quero te mostrar uma coisa.
- O quê?
-Um pôr-do-sol que eu não vejo há quatorze anos.
-Nossa por que tanto tempo?
-Porque faz quatorze anos  que você me matou- disse a velha trancando-os lá dentro.
-Não! Você não pode ser a Ra....
-Sim! Eu posso e eu sou!
-Não- diz ele chorando.
E lá fora, crianças ao longe brincavam de roda.

Conto de  Lygia Fagundes Telles - "Venha Ver o Pôr-do-Sol"
Adaptado por Thayná Dias Johann



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