terça-feira, 8 de maio de 2012

O Homem cuja orelha cresceu


                                                     
Estava escrevendo, sentiu a orelha pesada. Pensou que fosse cansaço, eram 11 da noite, estava fazendo hora extra. Escriturário de uma firma de tecidos, solteiro, 35 anos, ganhava pouco, reorçava com extras. Mas o peso foi aumentando e ele percebeu que as orelhas cresciam. Apavorado, passou a mão. Deviam ter uns dez centímetros. Eram moles, como de cachorros. Correu ao banheiro. As orelhas estavam na altura do ombro e continuavam crescendo. Ficou só olhando. Elas cresciam, chegavam à cintura. Finas, compridas, como fitas de carne, enrugadas. Procurou uma tesoura, ia cortar a orelha, não importava que doesse. Mas não encontrou, as gavetas das moças estavam fechadas. O armário de material também. O melhor era correr para a pensão, se fechar antes que não pudesse mais andar na rua. Se tivesse um amigo, ou namorado, iria mostrar o que estava acontecendo. Mas o escriturário não conhecia ninguém a não ser os colegas de escritório. Colegas, não amigos. Ele abriu a camisa, enfiou as orelhas para dentro. Enrolou uma toalha na cabeça, como se estivesse machucado.
Quando chegou na pensão, a orelha saia pela perna da calça. O escriturário tirou a roupa. Deitou-se, louco para dormir e esquecer. E se fosse ao médico? Um otorrinolaringologista. A esta hora da noite? Olhava o forro branco. Incapaz de pensar, dormiu de desespero.
Ao acordar sentiu que sua orelha estava mais leve, com medo de chegar na frente do espelho e perceber que era apenas ilusão, levou as mãos devagar até a orelha.
Ao encostar notou que elas estavam pequeninas novamente, mas o que aconteceu na noite passada?
Essa pergunta não saía mais de sua cabeça. E se acontecesse novamente, o que iria fazer pra evitar?!
Seguiu para o seu trabalho, sempre com as mãos na orelha, desconfiado de que qualquer momento elas cresceriam absurdamente rápido.
O dia passou e ele continuou sempre com as mãos na orelha para ver se tudo estava do seu devido tamanho. Chegou a noite, todos foram embora e  ele ficou fazendo sua habitual hora extra.
Concentrado como nunca, sentiu novamente o peso na orelha e quando foi ao banheiro, notou que novamente elas estavam crescendo. Notou que isso só acontecia à noite, mas por quê?!
Ao passar os dias, assustado com todos os últimos acontecimentos, ele procurou um médico e fez diversos exames para saber o que estava acontecendo.
O médico chegou a conclusão que os remédios faixa-preta, que ele estava tomando no final do dia, estavam deixando-o com alucinações fortes. Trocando os remédios e mantendo-se de repouso alguns dias o deixou muito mais calmo, tranquilo, não precisando mais tomar remédios fortes, assim não levou mais sustos com sua “enorme orelha”                 
                                                               Os melhores contos de Ignácio de Loyola Brandão
                                                              Adaptação: Michelle S. da Silveira


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