sábado, 5 de maio de 2012


 Continuação do Conto de Bernardo Carvalho.



                                             A vida de um homem normal



























Uma noite, voltando de metrô para casa, como fazia cinco vezes por semana, onze meses por ano, ele ouviu uma voz. Estava exausto, com o nó da gravata frouxo no pescoço, o colarinho desabotoado, a cabeça jogada para trás, o walkman a todo o volume e os fones enterrados nos ouvidos. De repente, antes mesmo de poder perceber a interrupção, a música que vinha ouvindo cessou sem explicações e, ao cabo de um breve silêncio, no lugar dela surgiu uma voz que ele não sabia nem como, nem de quem, nem de onde.

            Ele olhou  para o lado  e havia uma mulher ruiva, com olhos castanhos, tinha uma aparência nova, ou como ele pensava, mais nova que ele. Ela o olhava  como se estivesse esperando a resposta de alguma pergunta que ela havia feito.
- Você não vai me responder.- Ela falou rapidamente como se não tivesse tempo, mas faltava muito tempo para o trem, parar na próxima estação, ele não sabia se falava com ela ou não mais. Ele ficava olhando-a, e queria responder, mas não sabia que pergunta, então(como ia responder¿) ele não queria pedir pra ela falar de novo, então  continuou em silêncio, e foi escutar música novamente quando ele percebeu a mulher continuava olhando para ele.Ele desligou o fone.

- O que você quer?-disse angustiado.
Quando ele virou para olhar para ela, pra saber o que ela queria, não havia mais ninguém ao seu lado.

                                                                                                            Raíssa C. Schwantes.

                             (Bernardo Carvalho. In:Contos.São Paulo:Campanhia das Letras,2003.p.11.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário